CONVERSA DA SEGUNDA
Para arquiteto, novo sistema de
transporte de Palmas não precisaria desapropriar “um metro”
Luis Hildebrando destaca a
necessidade de um Plano de Mobilidade Urbana com foco na integração
Wendy Almeida Da Redação
Na semana passada, a Prefeitura de
Palmas pagou indenizações a 23 famílias impactadas pela expansão do sistema
viário da região sul que visa integrar o Projeto Bus Rapid Transit (BRT).
Diante das polêmicas que envolvem esse tema, o CT trouxe
na “Conversa da Segunda” o membro da Comissão de Política Urbana e Ambiental do
Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), Luis Hildebrando
Ferreira Paz, que falou sobre a necessidade de elaboração de um Plano de
Mobilidade Urbana da Capital antes da execução desses projetos.
Segundo o arquiteto e urbanista, Palmas foi planejada para inserção de um
sistema de transporte moderno, portanto, ressalta o especialista, não seria
necessário desapropriar "um metro”. Sua sugestão é que o Paço utilizasse,
numa primeira etapa, apenas a Avenida Theotônio para a implantação do novo meio
de transporte. Já a médio e longo prazo, podia se planejar a evolução para os
bairros, como o Aureny III. “O próprio Eixão poderia comportar esse BRT até
depois do Taquari e ali se alimentar. Então, por que desapropriar? Se já foi
planejado para isso”, coloca a Paz.
Em nota ao CT, também
na semana passada, o Paço mencionou a possibilidade de adotar futuramente
outro sistema de transporte: o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), ao invés do
BRT, que tem sido alvo de questionamentos na Justiça. Para o conselheiro
federal, não adianta a gestão pensar em um tipo de transporte se não pensar a
integração. Conforme o arquiteto e urbanista, o funcionamento do sistema, bem
como o crescimento da demanda para utilização do mesmo, inclusive por pessoas
que possuem carro, dependem de um projeto maior de mobilidade que deve integrar
ciclovias, calçadas, veículos e linhas alimentadoras.
Foto: Divulgação
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"O PLANO É O PRIMEIRO PONTO PORQUE DEPOIS ELE É QUE VAI DAR AS
DIRETRIZES"
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Confira a íntegra da conversa com
arquiteto e urbanista:
CT – O que Palmas precisa para
modernizar o trânsito e o transporte?
Luis Hildebrando: Primeiro um Plano de Mobilidade Urbana. Uma
cidade sem um Plano de Mobilidade Urbana não consegue saber qual é o maior
problema. Então, a primeira coisa é fazer esse plano. Todas as cidades com mais
de 20 mil habitantes, era obrigada até o ano passado fazer. Com ele você faz um
diagnóstico, uma boa pesquisa para saber onde estão trabalhando as pessoas,
aonde vão e qual a maior demanda.
A partir daí vamos ter como fazer uma coisa mais planejada. A cidade é muito
espalhada. Então, tem que planejar, estudar ela de forma mapeada, com sistema
de informação geográfica e hoje já se tem condições de obter informações pelos
celulares saber para onde estão se deslocando as pessoas, de que forma estão se
deslocando.
Hoje não se pode pensar mais um plano de mobilidade sem pensar ele integrado
com Porto Nacional. Nós temos uma população muito grande lá. Outra questão é
sobre as leis de incentivo à construção. Um plano de mobilidade também tem que
estar integrado ao incentivo a habitação. Se ela [HabitaPalmas] dá incentivos
para construir afastado da Theotônio, ou não está me dizendo aonde construir,
ela já é uma lei falha, porque devia incentivar nas áreas próximas do eixo de
transporte.
O plano é o primeiro ponto porque depois ele é que vai dar as diretrizes.
CT – Como o senhor vê a implantação
do Sistema BRT em Palmas? A Capital, com menos de 300 mil habitantes, comporta
esse tipo de projeto?
Luis Hildebrando: Somente com plano a gente saberia isso. Com
estudo, com pesquisa. Mas eu sei que alguma coisa tem que ser feita e não só o
Sistema BRT. Esse sistema se não for integrado a mobilidade urbana, integrado a
ciclovias, a calçadas, ou até mesmo com veículos ou outro tipo de
transporte...Eu assisti uma palestra em Brasília sobre Cidades Sustentáveis
onde eles mostraram que o Uber está ajudando na mobilidade urbana de Londres
porque ele está levando a pessoa da porta da casa dele até a parada de ônibus
ou do metrô. Então, a integração disso que é o mais importante.
Eu conheci na França um sistema integrado onde a pessoa estaciona o carro e com
a própria passagem [do transporte público] paga o estacionamento. A integração
é o mais importante, ela tem que facilitar para qualquer pessoa. Pode ser
integrado com bicicleta. Eu conheci um sistema em Miami que na frente do ônibus
tinha para-choques estendido onde eu podia colocar a bicicleta e descia na
parada com ela. Tudo isso é integração. Só o Sistema BRT talvez não vá
solucionar. E comporta? A cidade vai comportar desde que não faça um sistema
muito caro.
CT – Como o senhor avalia a
desapropriação de 216 famílias para expansão do sistema viário e inclusão de um
novo meio de transporte público?
Luis Hildebrando: Isso é outra coisa importante: O projeto de
Palmas foi planejado para isso. Não precisava desapropriar um metro porque o
próprio Eixão poderia comportar esse BRT até depois do Taquari e ali se
alimentar. Então, por que desapropriar? Se já foi planejado para isso. Ah! Tudo
bem que vai entrar lá e vai pegar mais gente, mas no primeiro momento não tem
dinheiro para se gastar muito, então faz pela Avenida Theotônio, faz um sistema
mais rápido e vai evoluindo, depois dá para passar pra lá. Eu também não vou
querer dizer assim ‘não desapropria’, pode até desapropriar... Um dia pode ser
que necessite daquela desapropriação, mas ao meu ver, hoje, poderia passar pela
Theotônio que vai até depois do Taquari. Como já desapropriou deixa aquilo para
o futuro, a segunda fase ou terceira fase. A primeira fase poderia ser o
sistema de canaleta onde somente passa o ônibus. A canaleta não sei se seria
pelo meio da Theotônio ou por umas das faixas, isso o estudo vai dizer. O importante
é que o ônibus tenha prioridade sobre os carros.
Foto: Divulgação
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"NÃO PRECISAVA
DESAPROPRIAR UM METRO PORQUE O PRÓPRIO EIXÃO PODERIA COMPORTAR ESSE BRT ATÉ
DEPOIS DO TAQUARI E ALI SE ALIMENTAR"
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Em 2005, nós participamos de um
evento do Banco Interamericano e nós discutimos isso: que o ônibus, quando está
chegando na sinaleira, ele fecha a sinaleira para ele passar. O sistema tem
como fazer isso. A prioridade é o transporte coletivo. Se ele vem vindo vai
fechando a sinaleira. Mas não precisa gastar muito para implantar um sistema
desse. Então, vamos tentar por parte.
CT – O BRT vai solucionar problemas
do transporte público como superlotação e demora?
Luis Hildebrando: É uma questão da gestão também, de quem vai
administrar esse sistema de transporte. Se ele tiver prioridade sobre o
automóvel, se não pegar engarrafamento, se for integrado; acho que pode
solucionar. A gente percebe nessas grandes cidades que o fluxo é muito grande
num determinado horário, em outro período se alguém quer andar demora mais
tempo porque não tem a demanda. Então, como eu já tinha falado um plano de
mobilidade, um estudo de origem e destino vai ajudar, vai orientar.
CT – Qual a diferença do BRT para o
atual Eixão 1 que passa pelo eixo principal da cidade com a alimentação por
linhas intermediárias?
Luis Hildebrando: O ônibus do BRT teria uma prioridade, teria
um local para ele rodar, só ele passaria ali. Se tiver engarrafamento ele tem a
prioridade, então ele pode ser mais ágil. Mas não adianta fazer o BRT se não
tiver integrado. Em São Paulo, alguns táxis podem usar esses espaços
exclusivos. A principal diferença é essa: o BRT vai ter uma canaleta exclusiva
para ele, integrado com as estações.
CT – A construção do BRT terá alto
custo. O senhor já comentou em entrevista anterior sobre um projeto mais viável
financeiramente. Fale um pouco sobre isso.
Luis Hildebrando: Hoje, para solucionar o BRT, se fosse
planejado, ele poderia ser em etapas. A primeira etapa é essa parte da canaleta
exclusiva e algumas estações. Isso, não necessariamente, teria que ter todo um
custo de viadutos e pontes. Então, na Theotônio não precisaria de nada disso.
Isso só para segunda ou terceira fase. Primeiro um trabalho exclusivo na
Theotônio, porque você tendo uma integração do BRT com as outras quadras, não
precisaria passar no meio da Aureny III. Se tem um bom sistema para alimentar o
BRT, não precisa passar lá por dentro. Será se não custaria mais barato? Um
plano definiria isso.
Também não descarto que em uma outra fase o BRT poderia entrar pelo meio do
Aureny, não estou descartando isso. Estou falando que se fosse feito em etapas
ele poderia mais tarde passar por lá. Mas hoje talvez não precisaria esse custo
todo de viadutos, pontes e da própria desapropriação que gera custos e
conflitos. Então, tudo tem que ser pensado.
Foto: Divulgação
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O QUE VAI TIRAR AS PESSOAS DO VEÍCULO É UM SISTEMA QUE FUNCIONE.
QUE EU SAIO DE CASA, CONSIGA IR ATÉ O PONTO E DESSE PONTO INTEGRAR"
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CT – Na semana passada a Prefeitura
de Palmas disse que poderá adotar o sistema BRT ou o Veículo Leve Sobre Trilhos
(VLT). O que o senhor acha dessa possibilidade de implantação desse outro meio
de transporte?
Luis Hildebrando: Esse outro [VLT] tem a implantação bem mais
cara, ele é tipo um bonde moderno. Acho que também poderia ser projetado no
plano de mobilidade, para o futuro. Com certeza, pode se colocar um Veículo
Leve sobre Trilhos, mas no primeiro momento, como tem o custo de implantação
muito alto, se fizer uma canaleta exclusiva para ônibus, basta depois colocar o
trilho daqui alguns anos. O planejamento teria que ser pensado para o momento
atual, intermediário e a longo prazo. Isso é possível, com um tempo.
CT – Comparando os dois tipos de
transporte, qual gera mais impactos: BRT ou VLT?
Luis Hildebrando: Na realidade, os dois são
parecidos. Só que um é com pneu e o outro é com trilho. Esse com trilho é um
pouquinho mais caro porque é todo elétrico, tipo um bonde. Tanto a implantação
quanto o veículo são muito caros.
CT – Qual dos dois sistemas é mais
viável para diminuir a utilização do uso de carros? Qual atrairia esse tipo de
demanda?
Luis Hildebrando: São duas fases. O
BRT é um sistema mais imediato, esse outro é a longo prazo mesmo. O que vai
tirar as pessoas do veículo é um sistema que funcione. Que eu saio de casa,
consiga ir até o ponto e desse ponto integrar com bicicleta, com outro veículo
ou com carro. Se eu pudesse deixar meu carro ali próximo ao HGP [Hospital Geral
de Palmas] e ir até a Ulbra hoje [sexta-feira, 2] eu iria. A integração seria
importante. Não adianta a gente pensar num sistema de transporte se ele não for
em etapas, se não tiver integração. Como tirar as pessoas dos carros? É
integrando.