quinta-feira, 16 de junho de 2016

A cidade da festa aos muros dos condomínios.




A cidade é uma festa (Maricato, 2015 in Seminário Internacional Cidades Rebeldes) e para ir ao encontro de sua existência precisa ser ocupada plenamente (a real convivência entre as pessoas). Razão pela qual a constatação de que os vazios urbanos se contrapõem a esta lógica e a segregação espacial se materializa como um paradoxo à esta felicidade. Para fomentar este debate seria necessário dar ênfase a este “novo-velho” produto imobiliário denominado “Condomínio Horizontal” que passou a integrar com maior frequência a paisagem da cidade de Palmas.
Estes ditos “empreendimentos” são sinais claros da reafirmação do isolamento social voluntário em nome da “purificação da identidade” (Telles, 2015 in Seminário Internacional Cidades Rebeldes) dentro de um imaginário de entregar a felicidade aos seus moradores. Pois bem, é evidente este total contrassenso “não há felicidade com segregação” ao contrário, ela aumenta a sensação de desigualdade e pode contribuir para uma maior violência urbana.
Neste contexto contraditório este modelo habitacional de “ilhas segregadoras”, seja por perfil ou estilo (a-poli), fortalece o ideário do “bem estar” que verdadeiramente inexiste, por constatação inequívoca dos problemas sociais (internos e externos aos muros) oriundos deste “pseudo-viver”, que se traduz no “narcisismo das pequenas diferenças” (Freud, 1921) estruturado pela lógica da mesmice, tudo em busca de uma ilusória felicidade, mesmo que para isto seja necessário customizar as leis internas ao condomínio (normalmente mais permissivas – não é raro ver menores dirigindo carros e motos pelas alamedas destes locais), mormente embaladas num mundo à parte, de aparências e imagens da sociedade burguesa utópica (Thomas Morus).O que se vê neste modus de “viver” é a presença de uma realidade recrudescida pela frustração revelada pela cidade real, porém sistematicamente ocultada pela apropriação do sofrimento pelo capital (nas variadas escalas e dimensões) e explicada na exógena e constante disputa dos espaços urbanos (violência, espaços de poder, dimensões públicas, e outros).
Nesta linha de pensamento não é possível conceber que uma cidade com a diversidade de Palmas permita a ampliação destes espaços elitizados e segregadores, que certamente trarão resultados de convivência desastrosos no futuro próximo. Plagiando a Ermínia Maricato “A cidade é uma festa” e precisamos permiti-las acontecer (tanto a cidade quanto a festa) neste sentido é preciso entender a necessidade de ampliar o público e reduzir o privado, também fazer acontecer o "direito à cidade" no amplo sentido Haveysiano.

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