sábado, 17 de maio de 2025

Construindo um Bairro Saudável: A Força da Participação Social e do Planejamento em Aureny IV

Em um esforço notável para moldar o futuro de seu próprio território, moradores do setor Aureny IV se reuniram em 10 de maio passado numa oficina vibrante, focada em um dos pilares fundamentais da qualidade de vida: a saúde coletiva. Longe de ser apenas uma discussão teórica, o encontro representou um passo fundamental na construção de um Plano de Bairro, uma ferramenta de planejamento urbano que busca dar voz direta à população local.

A oficina contou com a colaboração de diversos grupos e instituições, como o BRCidades, o Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Tocantins-UFT, e estudantes do Curso de Direito e Arquitetura, da mesma Universidade. 

O tema foi introduzido por Giovanna Ferreira, estudante de Direito da Universidade Federal do Tocantins e integrante do grupo BRCidades e do Programa de Rádio Cidades de Fato na UFTFM. Giovanna explicou que o Plano de Bairro difere do Plano Diretor, que estabelece diretrizes para a cidade como um todo. O Plano de Bairro, por sua vez, considera as necessidades específicas dos moradores, sendo uma proposta de planejamento local que nasce "das pessoas para as próprias pessoas". O objetivo é criar um documento que possibilite aos moradores cobrar do poder público as melhorias para o Bairro, que estão expressas em desejos por uma cidade digna, com educação e saúde de qualidade, entre outras necessidades que compõem o exercício ao Direito à Cidade.

O ponto focal desta oficina foi a saúde coletiva, abordada na perspectiva dos moradores do Aureny IV. Para facilitar a discussão e aprofundar o tema, foi convidada Jocicléia Chaves, servidora da Escola Tocantinense do SUS e Bióloga de formação. Jocicléia foi a principal ministrante da oficina, propondo dinâmicas para coletar dados sólidos sobre a saúde no bairro.

Jocicléia Chaves fez uma distinção importante entre a saúde pública, entendida no contexto biomédico (consultas médicas, remédios, cirurgias no posto de saúde), e a saúde coletiva. A saúde coletiva, explicou ela, é uma área interdisciplinar que busca compreender e melhorar a saúde da população. Ela envolve as interfaces da saúde com outros setores da sociedade, como transporte, limpeza, urbanização e planejamento urbano. Fatores como saneamento básico e a qualidade do ambiente urbano são promotores da saúde coletiva. Citando a definição da Organização Mundial de Saúde, Jocicléia reforçou que saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença, destacando a importância da promoção e prevenção em saúde. Ela mencionou ainda a Política Nacional de Promoção da Saúde e o conceito de "cidade saudável" como ferramentas que integram o planejamento urbano para melhorar a qualidade de vida e promover a saúde.

Para estimular a discussão e coletar as percepções dos moradores, Jocicléia propôs uma atividade prática: observar fotos do Aureny IV e identificar o que funciona como promotor de saúde e o que pode ser identificado como não é promotor de saúde no bairro. Os participantes foram convidados a anotar as suas observações e dar sugestões de melhoria.

As falas dos moradores revelaram um quadro de desafios significativos que afetam diretamente a saúde coletiva e a qualidade de vida no Aureny IV.  Destacam-se falas que mostraram a necessidade de "muitas melhorias, muitas, principalmente a saúde". Moradores descreveram a situação precária do posto de saúde local, que, apesar de existir, está sobrecarregado, pois atende também aos moradores de outros bairros. Outros pontos negativos foram reforçados pelos moradores como a dificuldade de conseguir agendamento de consultas e a necessidade de farmácias e laboratórios no próprio bairro.

Além da saúde, a infraestrutura urbana foi amplamente citada como impactando o bem-estar. A falta de asfalto nas ruas é um problema sério, gerando poeira no período seco e lama na chuva, o que afeta a saúde respiratória. 

Também a falta de espaços de lazer e convivência, foi outro ponto crítico. Vários moradores, reclamaram da ausência ou abandono de praças e parques, essenciais para atividades físicas e qualidade de vida, especialmente para a terceira idade. Os moradores pedem parque ou praças "bem ornamentadas" para caminhadas e exercícios, visto que no bairro as praças estão "abandonadas mesmo", sem espaço para correr ou caminhar.

Reclamam da falta de opções culturais e de lazer para crianças e jovens, por fim incluíram a falta de segurança em todo o Bairro.

Apesar dos desafios, a comunidade demonstra união e resistência. O grupo de mulheres da terceira idade, "Grupo Maior Qualidade Viva", com 40 integrantes, exemplifica essa luta por saúde e vida, mesmo sem incentivo do poder público.

As contribuições anotadas pelos participantes da oficina ecoaram essas preocupações e trouxeram sugestões concretas: regularização fundiária e asfalto, construção de mais unidades básicas de saúde, preservação do córrego, educação ambiental, coleta seletiva, iluminação adequada (ligada à segurança), acessibilidade nas praças, ações educativas nas escolas, manutenção de praças e unidades de saúde, promoção do comércio local e combate ao uso de álcool e drogas.

O processo de construção do Plano de Bairro e a oficina de saúde coletiva exemplificam a importância da participação social. Como destacou um dos participantes da coordenação, colher dados e tratar as informações diretamente com a comunidade é fundamental para transformar essas necessidades em um projeto de fato. Ouvir a comunidade, inclusive as crianças de forma lúdica, permitem que todos, inclusive as mais novas, expressem suas opiniões e entendam a discussão.

A presença do subprefeito da região sul, foi vista como um sinal positivo de que o poder público está começando a tomar ciência das necessidades da comunidade, tendo o representante municipal se comprometido a levar os resultados do plano de bairro ao prefeito e aos vereadores, buscando aprovação e execução das melhorias identificadas pela comunidade. 

A união da comunidade, representada pela associação de moradores e a participação ativa da população nas oficinas, emerge como o principal mecanismo para levar ao conhecimento do poder público os problemas locais e pressionar por soluções. A colaboração entre moradores, instituições, entidades e academia cria um caminho promissor para a transformação do Aureny IV em um bairro mais saudável e digno. 

A próxima oficina, já agendada para 28 de junho, continuará tratando de outras demandas, solidificando a base para o documento final. A expectativa é que o trabalho técnico e participativo resulte em mudanças concretas, provando que a voz da comunidade, quando unida e organizada, tem o poder de construir a cidade que ela sonha.

Confira a reunião integralmente no link abaixo: